Comunicação interna que produz sentido – Suzel Figueiredo
Na entrevista ping-pong deste mês falamos com Suzel Figueiredo sobre uma comunicação interna que produz sentido. Confira:
Simplifica.CI – Quais os principais aprendizados na sua jornada com a comunicação corporativa?
Suzel Figueiredo – Pergunta complexa essa. Minha jornada daria um livro de aprendizados, porque essa profissão de pesquisadora me dá a oportunidade de aprender todos os dias.
Escolho duas lições para compartilhar.
Primeira lição: quem trabalha na comunicação deve ter atitude de buscar atender necessidades e conhecer o perfil e repertório do público-alvo.
Segunda lição: Comunicação boa é quando o outro entende, quando produz sentido e traz benefício mútuo, para o colaborador e para a organização.
Simplifica.CI – Na sua opinião, qual é o papel da comunicação interna nas empresas? E como ele vem se transformando ao longo dos últimos anos?
Suzel Figueiredo – O papel da comunicação interna é reforçar o propósito e a cultura, promover o alinhamento sobre a estratégia e fortalecer o entendimento sobre o negócio. Para desempenhar esse papel é necessário acompanhar as demandas de mercado e isso significa que a comunicação interna muda conforme a sociedade muda.
Existem empresas em diversos estágios de comunicação interna que refletem a maturidade da área e da organização sobre esse papel. O escopo da área tem crescido trazendo novos desafios contemporâneos como a temática da Diversidade & Inclusão, a necessidade de discutir sobre ESG, a jornada dos colaboradores que a comunicação perpassa em todos os pontos de contato.
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Simplifica.CI – Quais indicadores de resultado são importantes para uma comunicação interna estratégica e como é possível monitorá-los?
Suzel Figueiredo – Indicador de resultado mede se os objetivos foram alcançados e, portanto, é necessário um planejamento de CI alinhado à estratégia de negócio. O planejamento é o guia que orienta quais são os públicos, objetivos, metas e quais serão os caminhos para alcançar os objetivos definidos.
Quanto mais os indicadores de resultado de comunicação estiverem vinculados à estratégia do negócio, mais valor a área trará para a organização. Assim é importante pelo menos três tempos de pesquisa: o marco zero para registar o ponto de partida, o monitoramento para saber se estamos no caminho certo e a mensuração de resultados para saber se os objetivos foram alcançados.
Simplifica.CI – A comunicação interna consegue refinar sua estratégia com segmentação de públicos ou ainda trabalha na lógica de comunicação em massa? O que você considera como avanços nessa área?
Suzel Figueiredo – Comunicação bem-sucedida tem que ser adequada ao público e uma empresa tem públicos muito diversos. Comunicação igual para públicos diferentes não funciona, por conta da linguagem, do repertório e principalmente, das expectativas.
Hoje a segmentação de conteúdo já é uma realidade. O mercado está avançando também na oferta de canais digitais ou físicos, que atendem perfis distintos. Muitas empresas oferecem aplicativos de celular que atende bem aos jovens, revistas impressas que ainda tem sue público, rádios corporativas, redes sociais internas para a turma que gosta de trocar ideia, murais físicos e digitais para equipes de operação e tudo isso reflete o comportamento de consumo de mídia que cada pessoa tem. Com canal e mensagem adequadas a chance de sucesso aumenta muito.
Simplifica.CI – Qual o papel dos canais de comunicação na comunicação interna, considerando o novo contexto do trabalho híbrido ou remoto?
Suzel Figueiredo – Os canais fazem parte de um mix de comunicação composto de campanhas, eventos, comunicação da liderança, a ambientação e a experiência do colaborador. Tudo comunica, daí a importância que a comunicação seja sistêmica e alinhada à cultura.
O desafio do trabalho remoto, mais complexo que o híbrido, é a falta de vivência relacional, construída justamente nos horários de não trabalho. A hora do cafezinho, os encontros no corredor, os almoços e os happy hours constroem uma relação que fortalece vínculos e auxilia na realização do trabalho.
Nesse contexto, os canais tem papel de apoio e a base da comunicação interpessoal, com líderes e influenciadores internos terá mais efetividade.
Simplifica.CI – Nas empresas que você conhece, todas têm um conselho editorial? Se sim, como ele funciona?
Suzel Figueiredo – Conselho editorial é um conceito que está em desuso, porque remete a um modelo de comunicação pautado em linha editorial bem estruturada. Existem vários modelos substitutos que atendem a tipos diferentes de empresas, desde as mais tradicionais, até as nativas digitais. Há grupos que fazem curadoria de conteúdo, comitês de comunicação com profissionais de várias áreas, criam times de influenciadores para fazer o papel da representação dos diferentes colaboradores, que é tão necessária.
Não importa o nome, nem o modelo que as empresas usam. O mais relevante é assegurar que todos tenham voz e vez nos espaços de comunicação e expressão.
Simplifica.CI – Para você o que é engajamento e qual a importância dele na Comunicação Interna?
Suzel Figueiredo – É importante esclarecer o que entendo por engajamento, que vai além das curtidas e cliques, vai além de emojis fofos e divertidos, vai além de participação em lives e eventos.
Engajamento é um conceito que está relacionado a um bem-estar profissional, uma sensação de saber o que fazer, fazer bem feito e ter reconhecimento.Também passa por um sentimento compartilhado de valores e crenças que leva o colaborador a recomendar a empresa e influenciar positivamente sua rede de relacionamento.
O engajamento é resultado de uma experiência integrada na empresa. Poucas pessoas se engajam quando o ambiente é tóxico, ou quando o líder é ausente, ou quando o propósito da empresa é discutível. E nenhum desses fatores é responsabilidade apenas da Comunicação Interna.
Fica a dica: #defina o que é engajar colaboradores antes de se comprometer com esse objetivo.
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Simplifica.CI – Você acredita que a escuta ativa auxilia a alcançar uma Comunicação Corporativa mais eficiente e eficaz? Como ela pode ser aplicada na prática?
Suzel Figueiredo – A escuta ativa é uma técnica desenvolvida no campo da psicologia e que traz muitos benefícios para diálogos efetivos. Infelizmente vejo que as equipes de comunicação interna dedicam quase a totalidade de seu tempo para produzir conteúdo e quase nenhum para escutar feedback.
Profissionais de comunicação são estimulados a escrever, desenhar, criar, ilustrar, filmar, falar e muito pouco capacitados a ouvir, descobrir e investigar. È preciso avançar muito nesse sentido.
Pesquisas com metodologia qualitativa são excelentes oportunidade de ouvir, testar hipóteses, descobrir caminhos e oportunidades.